O soar do apito do trem - Andressa

Logan mudou desde que chegou de sua viagem a Tóquio. Está descuidado, com barba por fazer e cabelos sem cortar. Está estranho e isolado de tudo e de todos, inclusive de mim. Não me deixa aproximar e saber o que está acontecendo e isso está me matando por dentro; principalmente depois do que aconteceu antes de partir. Em um momento onde já havia perdido minhas esperanças de o tê-lo para mim, algo inesperado aconteceu. Logan me puxou em seus braços e nossos lábios se encostaram em uníssono. Foi lindo, mágico e apaixonante. Nunca irei esquecer. E logo depois ele se foi. Achei que era apenas uma ilusão, que tudo fora um sonho. Agora que está de volta quero poder reviver aquele dia, mas algo o perturba e não consigo ajudá-lo ou ao menos entendê-lo.

Andando pela rua em meio aos pensamentos distantes, o vejo cabisbaixo entrando em um beco.

- Logan. - Ele me olhou de forma vazia e continuou seu caminho. Mas dessa vez fui atrás dele.

- Logan! Espere. Não me ignore.

Em vão, subiu umas escadas e entrou em um apartamento pequeno, que se encontrava em um prédio velho e imundo. Sentei num dos degraus e fiquei refletindo o que deveria fazer. Mesmo se batesse na porta ele não me atenderia. Também não quero ir embora sem saber o que está acontecendo. Passaram-se alguns minutos e a porta se abriu.

- Essa sua expressão de raiva é o meu ponto fraco. Também estava com raiva quando a conheci. É, eu lembro.

Suas palavras eram calmas, mas continuei o encarando. Queria dizer algo, mas meu sangue fervia por ele ter me excluído de seus problemas, me excluído de sua vida.

- Então, o que vai fazer? Vai voltar pra casa ou..?

Antes que ele pudesse terminar, me levantei e entrei. Ficou um silêncio depois que fiz minha pergunta. Logan pegou um maço de cigarro, acendeu, tragou e enfim respondeu.

- Naquele dia? Ah sim, me lembro. Eu estava em meus dias travessos. Não pense que significou alguma coisa. O que? Achou mesmo que iria me declarar pra você?

Não disse nada, isso o irritou e fez com que viesse para cima de mim. Me deitou no chão e se pôs diante de mim, aproximou-se do meu rosto com a intenção de me beijar, tentei empurrá-lo.

- Não foi pra isso que veio aqui?

Ao ouvir essas palavras, parei de relutar. Vi em seus olhos sua verdadeira intenção.

- Já desistiu? Tão fácil assim?

- Eu sei porque está fazendo isso. "Se eu pressionar ela sairá correndo daqui e nunca mais voltará", mas eu não tenho medo de você. Nada disso me fará ir embora.

- Droga! - Logan saiu de cima de mim e pegou outro cigarro. - Você não deve se preocupar com alguém como eu. Vá viver a sua vida e me esquece. Só arruinarei as coisas para você, é melhor assim. Vai embora.

- Você deve me achar uma mulher insistente, né?

- Sim, você é. - Depois de perceber que eu não iria a lugar algum, resolveu me contar o que houve.

- As coisas não foram muito bem em Tóquio, me envolvi com quem não devia. Meu pai se irritou e me deserdou. Saí da faculdade e todas minhas expectativas foram frustradas. Por isso digo que é melhor pra todo mundo se você se afastar de mim.

Mas não foi o que fiz. Todos os dias ia visitá-lo as escondidas, pois assim que meus pais descobriram o que houve me proibiram de vê-lo. Como são as famílias bem sucedidas, meus pais queriam que eu me casasse com alguém a altura. Não podia. Eu amava Logan, e quanto mais eu me afastava deles mais próximo ficava de Logan. Ate que um dia meu mundo desmoronou.

- Eu recebi uma carta de um amigo meu em Tóquio, dizendo que abriu uma loja de eletrônicos e me chamou para trabalhar com ele. Essa é a minha chance de seguir em frente. Parto amanhã e nunca mais a verei novamente. Desista de mim. É tudo que te peço.

"Cale-se. Não quero ouvir essas palavras. Fique aqui comigo." Era o que eu deveria ter dito naquele momento. Mas não pude. Ele estava finalmente se reerguendo e eu não podia tirar isso dele.

Quando conversava com uma amiga que finalmente iria contar ao garoto que ela gostava o que sentia, suas palavras me tocaram fundo: "Estou cansada de esconder isso e vou parar de ficar em silêncio. Vou dizer a ele como me sinto." No dia seguinte, fiquei esperando por Logan na estação do trem. Quando me avistou, ficou um pouco surpreso e veio até mim.

- O que faz aqui? Eu disse para não me ver partir.

- Irei fazer quatro perguntas e quero que me responda com toda sinceridade. Ou então, irei com você. - Amostrei minha mala e ele viu que era sério. Então concordou em responder.

- A primeira é, por que não quis que eu visse você partindo?

- Odeio despedidas tristes.

- Outra pergunta: Não pensou em me levar com você?

- Meu trabalho não é uma coisa certa. Não teria certeza de sustento.

- Terceira pergunta... por que não fez nada comigo além de beijar? Pretendia me deixar desde o início? - Ele ficou em choque e não conseguiu responder. Me encolhi em seu peito. - Não. Eu sabia, sabia que se importava comigo... minha última pergunta... não vai me levar junto?

- Quero que você cuide bem de sua própria vida.

Me afastou de seus braços e subiu no trem. Antes que alcançasse o último degrau eu disse:

- Imaginei que dissesse algo assim. Sinto que fui liberta, agora voltarei para meu próprio mundo... obrigada, Logan. Adeus.

- Catherine.. - sussurrou.

Me virei e meus olhos se encheram de lágrimas, não era verdade. Nunca me libertarei de Logan. Como poderia voltar ao meu próprio mundo se o meu mundo gira em torno dele. O apito do trem soou, alertando de sua partida. Foi o som mais doloroso que já ouvi. Saber que as portas se fechariam em poucos segundos e nunca mais veria o amor da minha vida. Antes que eu pudesse olhá-lo mais uma última vez, senti alguém me puxar. Caímos dentro do trem e as portas se fecharam numa sincronia perfeita. Quando me dei conta, estava nos braços de Logan.

- Eu a puxei para dentro... e agora?

- O que posso fazer? O trem já saiu da estação..

- Sim..

Me apertou em seus braços e ficamos ali em silêncio, apenas ouvindo a batida de nossos corações que entoavam uma melodia suave. No fim de tudo, eu sabia que ele me amava tanto quanto eu o amava. E agora poderíamos viver juntos em nosso próprio mundo.

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